quarta-feira, 13 de junho de 2012

Intensamente

@Hospital D.Estefania em Lisboa.
Enquanto aguardo para que o meu enteado seja visto por um medico por causa de uma otite vejo entrar em desespero completo e absoluto trazido pelo carro rapido do INEM um jovem de 15 anos e a sua mae e pai.
Inconsciente.
Tremendamente pálido.
Ligado por uma amalgama de fios e tubos ao suporte avançado de vida.
Mais tarde, após uma TAC sai o prognostico,  partilhado pela avó em choro convulsivo.
AVC.
Uma veia que rebentou inundando o cérebro de sangue.
Rapaz estudioso, boas notas e sossegado que quase não sai de casa. Aplicado e bom rapaz.
Custou-me ver aquela cena desesperante e por momentos enquanto o meu enteado era atendido vim cá fora fumar um cigarro...emocionei-me com toda aquela tristeza.
Consegui aguentar as lágrimas apesar de não ser nada comigo.
E não consegui evitar pensar como a vida é tão curta.
Naquele momento pensei em como, de um momento para o outro, tudo acaba.
E percebi como afinal tenho tanto medo da morte.
Nunca tinha percebido isso de maneira tão forte e intensa como naquele momento.
Já pensei varias vezes sobre isso mas nunca tive grande receio e até costumo brincar com isso dizendo baboseiras como..." Se morrer vou deitado e ainda têm de me levar..."
Mas naquele momento único e de um sofrimento que não consigo imaginar nem perceber porque nunca passei por situação semelhante, consegui perceber como tenho medo de morrer.
Como tudo se pode acabar sem eu ter feito tudo o quero, sem eu ter partilhado todos os momentos e mais algum com quem quero, como tenho tanto para fazer ainda por quem depende ainda de mim, de como ainda quero resolver tantas e tantas coisas na vida.
Fiquei a pensar nisto durante alguns dias e hoje finalmente assumi a escrita para tirar isto do pensamento.
Pensei nos meus filhos.
Pensei em todos a quem quero bem.
Para memoria futura...se eu partir cedo demais...vivam!
Vivam e façam tudo o que querem sem pensar no dia de amanha.
Porque nunca sabemos como podemos acabar.
Porque a hora pode ate ser a próxima....
O minuto pode ser a seguir...
A lição que tiro disto:
Não temos de viver um dia de cada vez.
Temos de viver todos os minutos que temos, intensamente, de cada vez.