quinta-feira, 31 de março de 2011

2 da Madrugada

2 da madrugada.
Permaneço acordado e ouço uma musica pela primeira vez mas que me soa tão familiar.
Uma realidade à qual não posso escapar e não posso descurar dentro de mim.
Não posso negar que me penetrou no ouvido porque simplesmente me fez recordar uma faceta que tento a todo o custo ocultar, esconder, esquecer, apagar.
Uma nova melodia e uma nova letra que me soam tão familiares...
Uma descrição mais que pormenorizada do meu interior.
E o sono que não vem...
Teima em não chegar.
Sou uma sombra do que fui.
Quando olho para outros tempos vejo o quanto alterei o meu ser, a minha personalidade, o meu carácter.
Ao longo dos dias, meses, anos... gradualmente, erradamente, estupidamente.
Muitas vezes me pergunto...no que me tornei eu?
Não quero acreditar que deixei de ser aquele ser que era tão feliz quando a ingenuidade da juventude não me deixava acreditar que, por vezes, a vida pode ser cruel.
Mas a verdade é que a cada acontecimento importante na minha vida, bom ou mau, acabei por destruir essa mesma ingenuidade deixando que a frieza de pensamentos e acções muitas vezes tomassem conta de mim de tal modo, com tal força, tão dolorosamente em certas alturas, que acabei a ser este pedaço do que já fui.
Poucas coisas me surpreendem agora....
Já vi de quase tudo um pouco....
Mas tenho medo de ver ainda mais alem e descobrir que poderá existir pior do que já vi.
Vazio.
Estou vazio.
Mesmo com uma nova oportunidade de ver as coisas por outro prisma, com outros olhos, com outro tipo de sentimento...estou vazio.
A felicidade torna-se momentânea e fugaz.
Criei medos absolutos, fobias inalteráveis, das quais não consigo escapar.
Porque me sinto protegido por esses mesmos medos e fobias.
2 e 15 da madrugada...
Pergunto-me se alguma vez algo poderá fazer-me realmente voltar a acreditar que a felicidade pura, real, honesta, desinteressada, verdadeira, poderá estar ao alcance de um olhar, de um toque, de uma palavra...
Uma palavra.
Uma única palavra para mim talvez seja quanto baste.
Essa palavra que não ouço á tanto tempo...
Já não me conheço.
Deixei de me conhecer no meio deste amontoado de magoas e sentimentos partidos e cacos de uma vida em que me transformei.
Porque me tornei uma sombra do que fui.
E porque no alcance que faço de mim próprio vislumbro o que não quero ver.
E fecho-me nesta concha de barreiras que criei porque não quero mudar mais, não quero ficar ainda mais distante do que já fui.
Será assim tão difícil?
Será assim tão fácil não perceber o que quero transmitir?
Sufoca-me este pensar e esta realidade de que sempre estive e estarei, cá dentro, no meu interior, no meu coração, na minha alma, profundamente...
2 e 25 da madrugada.
Sozinho.

1 comentário:

Anónimo disse...

Este efeito colateral.. quase que podia ser a tua vozinha interior... podia mas não é, sou simplesmente a tua amiga.. e porque a melhor amiga não é a que dá palmadinhas nas costas, mas a que toca as feridas para que as sintas realmente, e acordes.
Lava-te do que te desvia do que és lá no fundo, desprende-te do que torna diferente. A felicidade é possível... mas para isso tu tens de realmente estar feliz. Trata-te, cura-te, regenera-te, recria-te.. e renasce. Como a fénix das tuas próprias cinzas e voa para essa felicidade que tanto mereces como todos. Tu podes ser feliz... desde que o sejas contigo mesmo.
Aquele abraço... e sorri.