quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Travessura da escrita

"Quero dizer o que penso e sinto hoje,
com a ressalva de que,
amanhã,
talvez,
contradiga tudo isso."
 

Ralph Waldo Emerson 

Fecho os olhos. 
Respiro fundo enquanto me ajeito na cadeira. 
Ligo o aquecimento...preciso de me sentir confortável enquanto ouço uma musica das muitas que adoro ouvir vezes sem conta. 
Paro. 
Lembro-me que prometi a mim mesmo que não me voltaria a expor aqui. 
E penso... 
Penso nesta luta que impus a mim próprio todos os dias ao sentar-me diante do teclado para escrever...e não o faço. 
Mas há coisas que estão tão intrinsecamente ferradas, cravadas, queimadas em nós que é, literalmente, impossível deixar de as fazer. 
Deixar de sentir este prazer, esta liberdade, este alivio que sinto ao cruzar estas teclas, ao deixar fluir tudo o que sinto, penso, sou... é... como negar a mim mesmo o prazer de viver, de me sentir vivo. 
Quando escrevo liberto-me, sou eu mesmo. 
É a minha essência, o meu espírito, a minha alma que saem de mim e se exprimem no seu mais puro estado. 
Quando fecho os olhos e deixo os dedos correrem sem sentido, sem nexo, é algo tão libertador, tão puro que se torna indescritível a descrição deste acto. 
Por vezes queria que quem me lê, entendendo ou não o que escrevo, pudesse sentir uma terça parte do que sinto quando o faço... 
Senti saudades de correr livre por aqui. 
Senti angustia ao impor algo a mim próprio que não queria. 
Mas que precisava. 
E entre o precisar e o querer vai uma vida inteira que pode-se-nos escapar por entre os dedos... 
Perdi algo precioso, não explicitamente por causa deste vicio, mas como poderei ganhar se não for eu mesmo, se impuser algo que não é o que sinto a mim mesmo? 
Eu sou assim... 
Sou um menino crescido que precisa disto para aliviar uma falta, uma dor... 
Sou aquele que muitas vezes não mede consequências, mas que assume todos os seus erros e tenta corrigir-se constantemente. 
Sou a impulsividade da escrita quando a alma desespera e quer gritar. 
Alma só e perdida num mundo que busca um perfeccionismo que nunca quis alcançar. 
Continuo só. 
Rodeado pela vida e por tudo o que ela me pode oferecer se eu "mudar" o que sou, como determino as minhas acções, os meus pensamentos. 
Mas não quero "mudar"... 
Sou mais feliz perdendo o que tiver de perder do que ser o que não sou. 
Do que agir sem sentir. 
Do que fazer por fazer. 
Amanha posso dizer exactamente o contrario...estou no meu direito. 
Sou humano. 
Sou pessoa. 
Sou carne e osso. 
Sou alma pura. 
Sou sentimento e amargura. 
Anjo e Demónio. 
E no fundo mudo...vou mudando...melhor... 
Vou aprendendo. 
Amadurecendo. 
A cada linha, a cada letra, a cada bater numa tecla. 
Preciso disto. Preciso de me sentir vivo e não de me sentir preso e inútil para mim próprio. 
Quero dizer o que penso e sinto hoje. 
Porque hoje...nestes minutos, horas, dias... 
Me sinto Bem comigo próprio e com quem sou. 
E amanhã posso até vir a chorar. 
Mas faz parte. 
E respiro fundo novamente. 
É a minha alma que retorna ao meu espírito e juntos sossegam desta travessura que é escrever....

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